sexta-feira, 9 de julho de 2010

Experimentos de mim mesmo (II)

Analgésicos para a vida

O homem estava deitado no sofá de seu apartamento, falando sozinho.

- Olhei mil vezes para a aquela cartela de analgésicos que o médico me receitou. Tomo ou não tomo? Parece que tem uma voz ecoando na minha cabeça e dizendo para eu ingerir vários. Não, não! Devo estar ficando louco. Minha namorada está me ligando, mas eu não estou com vontade de atender... Ela acabou de terminar comigo e deve estar querendo me enrolar com aquela ladainha de preservar a amizade e tal... Ou será que está arrependida e quer voltar? Pra mim chega! Parece que a voz é a única que me entende. Tudo bem, tudo bem. Eu vou tomar os analgésicos. Talvez eles aliviem a dor que é viver. O quê? Miturar com bebida? Mas isso não é perigoso? Não? Se você diz então eu confio.

Ele então pega todos os comprimidos da cartela e abre uma garrafa de vodka, engolindo cada um deles em várias goladas.

- Agora seria bom um remédio pra dormir...

Depois de alguns minutos ele começa a ter alguma sensações estranhas, sente seu corpo esmorecer, um aperto no peito. Ele desmaia. Enquanto isso, seu celular tocava continuamente. mais de uma hora depois, alguém abre a porta do apartamento. Era uma mulher. Ela acende a luz e vê seu namorado jogado inerte no sofá junto à cartela de analgésicos e o álcool.

- O que você fez, meu amor? - Diz ela, enquanto sacode o corpo com esperaça de fazê-lo acordar.

Desespaerada, ela liga para a ambulância. Enquanto isso, ele estava fora de seu corpo, assistindo a tudo, pensando se deveria mesmo ter feito aquilo.

- Eu não atendi seus telefonemas e você veio até aqui... Que burrice eu fui fazer?

Ao olhar ao redor ele percebe que não estava sozinho. Havia uma figura medonha e toda descabelada ao seu lado, com dentes pontiagudos e olhos vermelhos.

- Olá! - Diz o ser, com uma voz arrastada.
- Quem é você?
- Sou aquela voz que estava na sua cabeça.
- Você me fez fazer aquilo... Eu... Eu... estou morto?
- Eu estava entediado e só queria me divertir um pouco, então me aproveitei que você é um fracote. Coitadinho...
- Cruz credo! Vade retro!
- Há, há, há! Você ainda não está morto, mas eu posso cuidar disso.
- Seu maldito! Não chegue perto de mim.

Ele sente uma dor muito forte e desmaia. Ao acordar, vê tudo branco ao seu redor e percebe que estava num hospital.

- Finalmente você acordou meu bem! Os médicos tiveram que desentoxicar seu organismo. O que você estava pensando, hein?
- Por favor me leve naquele centro espírita que você frequenta.
- O quê? Pensei que você detestasse essas coisas...
- É que eu vi um ser horrível enquanto estava desmaiado. Foi ele que me induziu a fazer aqui, se aproveitando da minha fraqueza. Ele queria que eu morresse...
- Deve ser algum obsessor... E ele quase conseguiu o que queria. Os médicos disseram que você não teve uma overdose por bem pouco. Espero que você me ouça mais de agora em diante.
- Melhor ouvir você do que aquela criatura monstruosa. Não vamos mais brigar, meu amor.
- Você sabe que eu quero o seu bem, mas não posso suportar mais esses seus vícios de álcool e cigarro. Como vai ser então? Eu ou as drogas?

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